Algumas das santas sicilianas, mulheres nascidas na Sicília e reconhecidas como santas pela Igreja Católica, são cultuadas em diversas partes do mundo cristão. Por outro lado, há ainda algumas pouco conhecidas ou cujo culto acontece apenas localmente.
Então, vamos conhecer a história de seis mulheres particularmente amadas pelos sicilianos?
Santas Sicilianas: Ágata
Ágata (ou Águeda) nasceu em Catânia por volta do ano 235 d.C. e pertencia a uma família nobre siciliana. Quando adolescente, foi pedida em casamento pelo cônsul romano Quinciano, o qual ficou completamente embasbacado com sua beleza.
No entanto, Ágata rejeitou o cônsul, pois tinha prometido sua virgindade à Cristo. Sendo assim, o que era amor se transformou em ódio. De fato, Quinciano mandou prender a moça, a torturou e tentou corrompê-la. Além disso, mandou cortar seus seios e, por fim, a mandou para as brasas ardentes. Ágata acabou morrendo na prisão no dia 5 de fevereiro do ano 250.
As relíquias de Santa Ágata
Em 1040, um general bizantino levou as relíquias de Santa Ágata para Constantinópolis, onde ficaram até 1126.
Naquele ano, a santa teria aparecido diversas vezes para um militar francês que se encontrava lá, pedindo-lhe que levasse seu corpo de volta para Catânia. O francês, junto com um amigo, conseguiu roubar as relíquias e as levou de volta para Catânia.
Enfim, no dia 17 de agosto de 1126, para alegria geral dos cataneses, os restos da santa padroeira da cidade entraram na catedral.
Santa Ágata, padroeira de Catânia e também de San Marino, é celebrada no dia 5 de fevereiro. Ela é representada segurando uma bandeja com dois seios.
Santa Luzia
Luzia (ou Lúcia) nasceu em Siracusa no ano 283 e pertencia a uma rica e nobre família, provavelmente cristã. Entretanto, ela perdeu o pai quando tinha somente 5 anos. Além disso, a mãe dela sofria de uma doença grave.
Assim, sem mais saber o que fazer para curar a mãe, as duas decidiram ir até Catânia para rezar junto ao túmulo de Santa Ágata e pedir-lhe essa graça. Enquanto faziam as orações, Luzia teve uma visão onde Santa Ágata prometia que a mãe seria curada e que a moça se tornaria uma santa.
Após receber o milagre, Luzia falou para a mãe dela que jamais se casaria e que doaria todos os seus bens à caridade. A notícia chegou ao pretendente de Luzia, que tomado pela raiva, denunciou a moça ao arconte de Siracusa, Pascasio, que logo mandou prendê-la. Naquela época, o imperador romano Deocleciano havia decretado a perseguição às pessoas de fé cristã.
O martírio
Durante o processo, Pascasio tentou convencer Luzia a renegar sua fé e realizar sacrifícios em louvor aos deuses romanos, mas ela não cedeu. Depois de muito torturar a moça, mas sem obter resultados, Pascasio ordenou que jogassem óleo em Luzia e ateassem fogo, mas ela não se queimou. Por fim, ordenou-se a decapitação de Luzia, que morreu em Siracusa no dia 13 de dezembro de 304.
Dizem que seus olhos foram arrancados e, por isso, a tradição católica fez dela a santa protetora da vista, apesar de não existir nada que confirme esses fatos. De fato, para alguns, o emblema dos olhos na bandeja está ligado ao nome Luzia, que vem de Lux e significa “luz”.
Celebra-se Santa Luzia, padroeira de Siracusa e co-padroeira de Palermo, no dia 13 de dezembro. Ela é representada segurando uma bandeja com dois olhos.
Santas Sicilianas: Rosália
Rosalia Sinibaldi nasceu por volta de 1130, em Palermo, e pertencia a uma rica família da cidade.
Quando ela tinha cerca de 13 anos, o Rei Guilherme da Sicília ordenou ao pai de Rosalia que ela se casasse com um conde. No entanto, apesar da ordem, Rosália, que era uma linda garota loira de olhos azuis, recusou o casamento e decidiu entrar para a vida religiosa e viver em isolamento.
Sendo assim, um dos lugares onde Rosália viveu isolada do mundo foi uma gruta do Monte Pellegrino, que já naquela época se considerava um monte sagrado. Rosália viveu ali provavelmente cerca de 8 anos, até a sua morte, que acredita-se ter acontecido em 4 de setembro de 1166.
Desde que Rosália se isolou na gruta, ninguém mais teve notícias dela. De fato, após sua morte, ninguém sabia onde estava o corpo dela.
Isso até que, em 1624, enquanto Palermo tinha sua população dizimada pela peste, o espírito de Rosália apareceu para uma doente e para um caçador. A este, ela indicou onde estavam seus restos mortais e lhe pediu que levassem os mesmos em procissão pela cidade.
Por onde as relíquias de Rosália passavam, os doentes se curavam e, assim, a cidade se livrou da peste. Desde então, a procissão se repete todos os anos.
Celebra-se Santa Rosalia, padroeira de Palermo, em 4 de setembro. Porém, entre 10 e 15 de julho acontece o Festino, durante o qual comemora-se a passagem da relíquia da santa por Palermo em 1624.
Uma curiosidade:
Os Tâmeis, grupo étnico nativo de um estado da Índia e do Sri Lanka, que vivem em Palermo, veem em Santa Rosalia a deusa Kali e todos os domingos vão ao santuário louvar a santa.
Santas Sicilianas: Ninfa

Imagem de Santa Ninfa na Catedral de Palermo. Foto: José Luiz Ribeiro
Santa Ninfa nasceu em Palermo na época do imperador Constantino, mas não se sabe exatamente em qual ano. Ela era filha de um prefeito, Aureliano, o qual se opôs radicalmente à conversão da filha ao cristianismo.
Tanto Ninfa quanto o bispo que a batizou, Mamiliano da Palermo, além de outros 200 cristãos, foram presos e torturados por ordem de Aureliano. Segundo a lenda, a intervenção milagrosa de um anjo os libertou e os guiou, via mar, à ilha de Giglio, na Toscana, onde permaneceram por muito tempo em um eremitério.
No entanto, como eles tinham um desejo muito grande de visitar os túmulos de São Pedro e São Paulo, deciriam ir a Roma. Logo depois de realizar seu sonho, Mamiliano morreu.
Ninfa fez com que Mamiliano fosse sepultado próximo ao mar, em Bucina. Contudo, apenas um ano depois, em 316 d.C., Ninfa também faleceu e a sepultaram ali. Os moradores locais, durante um período de seca, oraram para Ninfa de modo que intercedesse a Deus pela chuva. O tão desejado milagre aconteceu e os fiéis começaram a adorá-la como uma santa.
Sua cabeça, mantida na igreja de Santa Maria in Monticelli em Roma desde 1098, foi transferida para a Catedral de Palermo em 1593 e colocada sob um altar.
Santa Ninfa é co-padroeira de Palermo e padroeira da cidade de Santa Ninfa, na província de Trapani. Comemora-se sua festa no dia 10 de novembro e seu principal atributo é um cálice com chamas.
Santas Sicilianas: Oliva
Os acontecimentos que contam a história de Santa Oliva não são claros. As informações sobre sua vida chegaram aos nossos dias através de um texto do século XIV encontrado em Termini Imerese, cidade próxima a Palermo, e de um lecionário do século XV.
Provavelmente Oliva nasceu em Palermo no ano 448, em uma família cristã e desde muito cedo se dedicou à caridade. No entanto, em 454, Genserico, rei dos vândalos, conquistou a Sicília e começou a perseguir os cristãos. Enquanto isso, Oliva, mesmo sendo uma criança, confortava os prisioneiros e os incentivava a manter a fé. Genserico, admirado com a crença inabalável da menina, decidiu que não a mataria, mas a mandaria para Túnis.
Lá o sultão Amira a teria submetido a torturas, terminando por abandoná-la no deserto. No entanto, embora a menina tenha sobrevivido aos animais ferozes, após outras torturas ela teria sido decapitada.
Existem duas versões sobre onde está o seu corpo. Segundo uma, estaria enterrado em Túnis, tanto que existe até uma mesquita com o nome de Santa Oliva (os árabes convertiram a igreja dedicada a ela em uma mesquita).
Por outro lado, uma crença popular diz que o levaram para Palermo e o enterraram sob a igrejinha dedicada à Santa, posteriormente incorporada à igreja de São Francisco de Paula.
Santa Oliva é co-padroeira de Palermo e padroeira das cidades de Alcamo, Cefalù, Monte San Giuliano, Pettineo, Raffadali, Termini Imerese, Trivigliano. Sua celebração acontece em 10 de junho e seu símbolo é um ramo de oliveira.
Uma curiosidade:
Santa Oliva é particularmente venerada (supersticiosamente) em Túnis porque se pensa que blasfemar contra ela leva a graves desgraças. Além disso, também acredita-se que, quando encontrarem seu corpo, o Islã acabará.
Santas Sicilianas: Tecla
Com um nome bem peculiar, Tecla é uma das santas sicilianas, mas seu culto não é muito difundido. Ela nasceu no século II, em Lentini, cidade entre Catania e Siracusa.
Tecla era uma moça com boas condições financeira, apreciada e conhecida por sua generosidade, especialmente durante as perseguições aos cristãos. Ela hospedava e escondia em sua própria casa os perseguidos, de modo que estes pudessem escapar dos decretos imperiais romanos. Além disso, cuidava dos órfãos, das viúvas, dos mais necessitados e converteu vários pagãos.
Um certo dia, depois de ter ficado paralítica e com medo de não poder continuar a fazer caridade, ela ficou sabendo que três irmãos cristãos – chamados Alfio, Filadelfio e Cirino – estavam chegando à aldeia onde ela morava. Eles eram conhecidos pela realização de inúmeros milagres.
Assim, Tecla faz de tudo para receber a visita deles e conseguiu. Emocionada, acolheu os três irmãos e pediu que orassem por ela. Milagrosamente, depois da intercessão deles, ela se curou.
Em seguida, quando os irmãos foram presos, Tecla pagou os guardas romanos e, junto com sua prima Justina, conseguiu visitá-los, levando-lhes água e comida. Depois que Alfio, Filadelfo e Cirino foram martirizados, a mulher comprou seus cadáveres, permitindo que os corpos recebessem uma sepultura adequada. Enfim, ela fundou uma igreja em sua cidade, que se ergueu acima do túmulo dos irmãos.
Tecla morreu em 10 de janeiro de 264, mas não foi martirizada. O que evitou que isso acontecesse foi a morte do governador Tertullo, seu perseguidor.
Santa Tecla, portanto, não recebeu a coroa do martírio, mas aquela tecida de boas obras. Ela é co-padroeira de Lentini, junto com os santos Alfio, Filadelfo e Cirino.
Celebra-se Santa Tecla em 10 de janeiro, dia de seu nascimento e, na iconografia, ele aparece carregando consigo a igreja de Lentini.
Planeje sua viagem
São tantas santas da Sicília que dá até para perceber o quão incrível o lugar é! Obrigado por esta aula de cultura!
Olá Gustavo,
Quanta gentileza nas suas palavras! Obrigada de coração.
Um abraço,
Patricia