Você sabia que há algumas obras de Caravaggio na Sicília? Pois é, durante sua passagem pela ilha, este grande artista realizou alguns quadros e é muito fácil encontrá-los.
Entre 1608 e 1609 Caravaggio esteve na Sicília. Isso aconteceu depois dele ter se envolvido em grandes problemas e ter dado início à sua fuga. Na verdade, dizer que eram grandes problemas é um eufemismo!
De fato, ele havia sido condenado por assassinato em Roma, era procurado por credores e maridos traídos em toda a península italiana e, por fim, foi perseguido pelos Cavaleiros de Malta no mar Mediterrâneo. Apesar disso, Caravaggio de algum modo conseguiu chegar à Sicília, onde graças aos contatos do velho amigo Mario Minniti, uma lista de ricos nobres sicilianos fez fila para pagá-lo generosamente por suas obras.
Em suma, tendo traído seus companheiros malteses e usando o último de seus favores políticos em Roma, seu pincel lhe deu uma última chance de salvação na Sicília.
Obras de Caravaggio na Sicília: Siracusa
Sem dúvida o quadro de Caravaggio na Sicília mais fácil de ver é aquele que se encontra em Siracusa.
Após sua chegada à cidade, ele foi quase imediatamente encarregado de executar um retábulo para a Basílica de Santa Lucia al Sepolcro, representando a padroeira da cidade (Santa Luzia). Assim, ele criou a obra chamada “Il Seppellimento di Santa Lucia” (em português, ‘O sepultamento de Santa Luzia’).
A técnica usada por Caravaggio para criar a obra exigiu várias intervenções de restauração ao longo do tempo, embora permaneça entre suas obras mais mal preservadas.
Onde ver a obra
A pintura, depois de muito tempo exposta no Museu Palazzo Bellomo, atualmente se encontra na igreja de Santa Lucia alla Badia, na espetacular Piazza Duomo, em Ortigia. A entrada é gratuita.
Obras de Caravaggio na Sicília: Messina
Foi em Messina que Caravaggio recebeu seu maior pagamento até então, isto é, o triplo do valor que vinha recebendo em Roma, de um rico comerciante chamado Giovan Battista de ‘Lazzari.
Dessa forma, inspirado pelo sobrenome deste cliente tão generoso, ele começou a pintar um retábulo para a capela da família chamado “A Ressurreição de Lázaro“. No entanto, o produto final foi tão sombrio quanto o humor do artista naquela época. De fato, 90% da tela é escura, ou seja, a escuridão da morte da qual Lázaro ressuscitaria. Além disso, considera-se essa pintura uma das mais representativas dos últimos anos de Caravaggio, dedicada a uma maior experimentação com a luz, agora quase tendendo a “apagar” os personagens.
O outro quadro que Caravaggio realizou na Sicília foi encomendado pelo Senado de Messina como retábulo para a igreja de Santa Maria della Concezione. Trata-se da obra “Adoração dos Pastores” e foi uma das obras mais bem pagas da carreira de Caravaggio.
A cena se passa dentro de um estábulo com Maria, exausta da viagem e do parto, deitada no chão segurando o bebê adormecido no colo. Não há enfeites ou detalhes supérfluos e o único presente é o cesto que vemos em primeiro plano à esquerda, contendo um pão, um pedaço de pano e uma ferramenta de carpinteiro.
Restaurado em 2009, a obra é notável por sua representação humilde da Sagrada Família. Esta aparece semi-deitada no chão de terra, em uma cabana sombria de um estábulo.
Onde ver as obras
Essas duas obras de Caravaggio na Sicília se encontram no Mu.Me, o Museu Regional de Messina. Ele funciona de terça a sábado, das 9h30 às 18h30. Domingos das 9h30 às 13h. O ingresso inteiro custa 8 euros.
O mistério do quadro de Palermo
Depois de Messina, Caravaggio foi para Palermo, onde ele passou seu último período na Sicília. Ali ele foi logo contratado pela Ordem Franciscana para pintar a obra Natividade com São Lourenço e São Francisco. A obra seria destinada ao Oratório de San Lorenzo.
Mais uma vez, é o incrível realismo e autenticidade da cena que caracteriza esta obra de Caravaggio. Além disso, cada personagem tem uma atitude espontânea.
De fato, Nossa Senhora tem a aparência de uma mulher comum e um aspecto extremamente melancólico, como se já estivesse perfeitamente ciente do destino que aguarda seu filho. Além disso, Caravaggio retratou Jesus como uma criança comum e não em pose de oração ou julgamento, como era o caso nas pinturas mais antigas. Por sua vez, São José é retratado jovem, de costas e olhando para trás, como se estivesse conversando com outro personagem, algo incomum se comparado com a iconografia tradicional. Enfim, a figura da esquerda é São Loureço, enquanto à direita está São Francisco de Assis.
Esta magnífica obra embelezou o oratório de Palermo até o dia 17 de outubro de 1969. Aproveitando a ausência de um sistema eficaz de vigilância, ladrões entraram por uma porta lateral do Oratório, abrindo-a com uma pequena arma e roubaram o quadro de Caravaggio. A invasão foi muito simples, o roubo rápido. Tomavam conta do oratório apenas duas senhoras, que dormiam no andar superior.
Sem dúvida a obra-prima de de Caravaggio terá passado por mercados clandestinos ou pelas luxuosas mansões dos chefões da máfia. Algumas revelações atribuem a alguns mafiosos a venda da obra-prima retirada do Oratório de San Lorenzo. Posteriormente, a pintura, que tem um valor estimado de 30 milhões de euros, chegaria ao mercado negro de antiguidades suíço. Em suma, a obra jamais foi encontrada.
Onde ver a obra, ou melhor, sua reprodução
Quem visita hoje o Oratório de San Lorenzo pode ver apenas uma cópia. A reprodução foi realizada em 2015 pela Factum Arte, empresa especializada na realização de cópias artísticas fiéis, com base em apenas uma fotografia de 1967.
O trabalho de reconstrução da pintura, embora certamente não possa suprir a falta do original, é de grande importância para que possamos ter uma ideia de como era a obra.
O Oratório de San Lorenzo abre todos os dias, das 10 às 18h. O ingresso custa € 2,50.
Os últimos dias de Caravaggio
Em 1609, exatamente um ano após sua chegada à Sicília, Caravaggio entrou em um barco e continuou sua viagem, retornando a Nápoles. Posteriormente, já em 1610, ele deixou a cidade de Nápoles e dirigiu-se a Palo Laziale de navio, para então retornar a Roma, onde havia obtido perdão nesse meio tempo. No entanto, uma vez em Palo Laziale, o comandante das tropas locais o prendeu, porque provavelmente não sabia que o pintor tinha recebido o perdão.
Depois de alguns dias, Caravaggio saiu da prisão e foi atrás do navio, o qual seguira viagem em direção a Porto Ercole, na Toscana. Isso porque ele precisava pegar de volta o que havia deixado no barco.
Não se sabe se Caravaggio chegou a pé ou de barco a Porto Ercole, porém ele não encontrou o barco. O pintor estava ansioso para pegar suas três pinturas, as quais seriam seu passe, pois ele tinha que entregá-las ao Cardeal Scipione Borghese, em Roma.
No entanto, poucos dias depois de chegar a Porto Ercole, Caravaggio morreu. Era o dia 18 de julho de 1610. Nunca se soube exatamente a causa da sua morte, apesar das várias hipóteses que sugiram ao longo dos anos.
Por fim, seu biógrafo Giovanni Pietro Bellori relatou o seguinte: “Agitado miseravelmente pela falta de ar e pela dor, correndo pela praia, sob o sol mais quente do verão, quando chegou a Porto Ercole, abandonou-se e, surpreendido pela febre maligna, morreu em poucos dias”.
Planeje sua viagem