Ao ver uma foto panorâmica de Palermo, certamente você terá notado um monte que se destaca na paisagem da cidade: é o Monte Pellegrino, cartão postal de Palermo, definido por Wolfgang Goethe, “o mais bonito promontório do mundo”.
De quase todo ponto de Palermo é possível ver o Monte Pellegrino, com seus pouco mais de 600m de altura. Mas não é só pela sua presença constante na vida dos palermitanos que o monte tem um significado especial. De fato, para os habitantes de Palermo ele é sagrado, é um lugar de fé ligado à santa padroeira da cidade, Santa Rosália (em italiano, Rosalía).

Palermo vista da estrada que leva ao santuário de Santa Rosália
A história de Santa Rosália
Rosalia Sinibaldi nasceu por volta do ano 1130 em Palermo e pertencia a uma rica família de origem normanda. Diz a lenda que quando Rosália tinha cerca de 13 anos, o Rei Guilherme da Sicília, chamado de O Mau, deu ordens ao pai para que a garota se casasse com um conde, que havia salvado a sua vida. Rosália, que frequentava a corte do rei e era uma linda garota loira de olhos azuis, se recusou e decidiu entrar para a vida religiosa e viver como uma ermitoa.
Um dos lugares onde Rosália viveu em isolamento foi justamente uma gruta do Monte Pellegrino, que já naquela época era considerado um monte sagrado. Rosália viveu ali provavelmente por cerca de 8 anos, até sua morte, que acreditam ter acontecido em 4 de setembro de 1166.
Desde que Rosália se isolou na gruta do Monte Pellegrino, ninguém mais soube do seu destino, tanto que após a sua morte, a população não sabia onde se encontrava o corpo dela. Isso até que, em 1624, enquanto a população de Palermo era dizimada pela peste, o espírito de Rosália apareceu. Primeiramente foi para uma doente, depois para um caçador. A este, Rosália indicou onde estavam seus restos mortais e lhe pediu que os mesmos fossem levados em procissão pela cidade.
Por onde as relíquias de Rosália passavam, os doentes se curavam e, assim, a cidade foi se livrando da peste. Desde então, a procissão se repete todos os anos, passando a tradição de geração em geração.
Em louvor a Rosália, a gruta no alto do Monte Pellegrino foi transformada em santuário e Rosália se tornou a santa protetora de Palermo. É impressionante a devoção da população à sua santinha (chamada santuzza).
O Santuário de Santa Rosália
O Santuário de Santa Rosália fica no alto do Monte Pellegrino, exatamente a 430m de altitude. Ele foi construído em 1625, por cima da gruta onde teria vivido a santa, e está praticamente encaixado num paredão rochoso. Uma parte do santuário é dedicado à igreja, a outra a um convento.
Confesso que ao chegar lá a primeira impressão que tive foi de um santuário como outro, com os aproveitadores vendendo bugigangas pseudoreligiosas, fiéis concentrados em suas orações e turistas curiosos, como eu.
A fachada da igreja/convento é muito simples, barroca, mas o que suscita a curiosidade é a quantidade de ex-votos e mensagens de agradecimento à santa. Dentro, logo se nota a gruta e, no fundo, o altar iluminado.

Essas peças de alumínio no teto servem para coletar a água da chuva que se infiltra na gruta. A água será posteriormente usada como água-benta.
Uma imagem que impressionou até mesmo Goethe
A imagem de Santa Rosália fica dentro de uma urna, na parte esquerda do altar. Nunca vi uma imagem de santo assim tão dourada e carregada de jóias, coisa que não impressionou só a mim, mas também a Goethe, que deixou registado em seu diário de viagem pela Itália o seguinte:
“Foi então que uma bela moça apareceu-me sob a luz de algumas lâmpadas tranquilas. Parecia em êxtase, com os olhos meio encobertos, a cabeça apoiada docemente sobre a mão direita, repleta de anéis. Não me cansava de contemplá-la, como se tivesse um fascínio singular. As vestes de alumínio dourado imitavam perfeitamente um tecido de ouro. A cabeça e as mãos, de mármore branco, eram… tão naturais, tão sedutoras, ao ponto de acreditar que ela respirasse, que se movesse,” (Goethe, Viagem a Itália, tradução minha).

Não é perfeita a descrição de Goethe?
Até hoje, no dia 4 de setembro, provável dia da morte de Rosália, os peregrinos sobem a pé o Monte Pellegrino, às vezes até de joelhos, em sinal de devoção à santa.
Uma curiosidade:
Notei um bom número de indianos fazendo orações. Era um domingo, e descobri que todos os domingos os Tâmeis que vivem em Palermo (tanto os cristãos quando os hindus, que veem em Santa Rosalia a deusa Kali) vão até o santuário louvar a santa.

Sendo uma rainha normanda! Essas placas estão na frente do santuário, a prova que ele também tem um lado profano.
Enfim, não importa qual sua religião, o passeio vale a pena, mesmo que seja só para apreciar Palermo do alto!
Como chegar ao Santuário de Santa Rosália em Palermo
A pé: Não só os peregrinos sobem a pé até o santuário, há quem decida escalar o Monte Pellegrino por conta própria. O percurso parte da Piazza Generale Cascino e prossegue pela antiga trilha medieval. São 400m de desnível distribuídos em 4km.
De ônibus: A linha 812 vai da Piazza Politeama até o santuário.
De carro: É o melhor modo de ir ao Monte Pellegrino e a estrada é panorâmica, fornecendo uma linda vista da cidade. Dá para estacionar tranquilamente no espaço em frente ao santuário.
Com um transfer particular: Você pode fazer um tour de carro do centro de Palermo até o Monte Pellegrino e Mondello. Peça um orçamento AQUI.