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Nápoles e o milagre do sangue de San Gennaro


San Gennaro era um mártir cristão, decapitado por volta do ano 300, na ultima fase da perseguição de Diocleciano. É o padroeiro de Nápoles e está ligado a um acontecimento polêmico, de fé, mas também muito curioso: o milagre da liquefação do sangue.

Pois é, diz a lenda que, pouco tempo depois de sua morte, o sangue de San Gennaro teria sido coletado por uma mulher de nome Eusébia e colocado em ampolas encontradas próximo ao seu corpo.

Ao longo dos séculos, o sangue solidificou-se e tornou-se uma série de depósitos parecidos com pedras. No entanto, desde o século XIV, testemunhas oculares atestam o fato de que essas partículas sólidas transformam-se em sangue líquido em dias santos especiais. Seriam um sinal de bênção e proteção para os napolitanos. 

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Quem era Januário, ou melhor San Gennaro?

De acordo com vários estudos sobre a vida dos santos, Januário (Ianuarius, em latim) nasceu em Benevento e pertencia a uma rica família aristocrata. Com apenas 15 anos, ele se tornou padre de sua paróquia em Benevento, que na época era composta por uma população que professava principalmente o paganismo.

Quando Januário tinha 20 anos, tornou-se bispo de Nápoles e fez amizade com Juliana de Nicomédia e São Sossius, que ele conheceu durante seus estudos sacerdotais. Durante a perseguição dos cristãos pelo imperador Diocleciano, Januário escondeu seus irmãos e irmãs cristãos, impedindo-os de serem capturados.

 

Afresco de São Janurário nas Catacumbas De San Gennaro. Segundo estudos, este teria sido o primeiro retrato do santo.

Enquanto Januário estava visitando Sossius na prisão, os perseguidores o encontraram e o prenderam. Ele e seus fiéis foram condenados a serem lançados entre os ursos selvagens no Anfiteatro Flaviano de Pozzuoli (terrível!).

Mas acabaram por modificar a sentença por medo de desordem pública. Decidiram, portanto, decapitar San Gennaro na cratera do vulcão Solfatara. Outras lendas declaram que os animais selvagens se recusaram a comer o santo, enquanto em outras versões diz-se que ele foi jogado em uma fornalha, mas saiu ileso.

O ritual da liquefação do sangue

Na manhã de 19 de setembro (data de morte de San Gennaro), milhares de pessoas lotam a Catedral de Nápoles e a Piazza del Duomo, a praça em frente a ela, esperando ver o sangue do santo se liquefazer. É o ato que se conhece como o “milagre de San Gennaro”. Em uma cerimônia religiosa solene, o cardeal retira as taças com as ampolas sangue da capela e as leva em procissão, junto com o busto de San Gennaro.

A multidão assiste ansiosa para ver se o sangue milagrosamente se liquefaz, o que seria um sinal de que San Gennaro abençoou a cidade. Acredita-se que seja um mau presságio, se não acontecer. Se o sangue se liquefaz, os sinos da igreja tocam, e o cardeal leva o sangue liquefeito pela catedral até a praça para que todos possam vê-lo. De fato, na maior parte das vezes, o sangue se liquefaz.

Milagre de san gennaro

Imagem de Gianni Molinari (Flickr)

Depois disso, ele devolve o relicário ao altar onde os frascos ficam em exibição por oito dias.

Ainda, em outras duas datas acontece o “milagre” da liquefação do sangue. Uma delas é o sábado que antecipa o primeiro domingo de Maio (data da primeira trasladação do corpo do santo). A outra é o dia 16 de Dezembro. Neste dia de 1631, San Gennaro teria salvo Nápoles de uma violenta erupção do Vesúvio.

 

Milagre ou uma brilhante invenção dos alquimistas?

Enquanto a Igreja Católica não toma uma posição oficial sobre a veracidade do milagre, os cientistas afirmam que os frascos de vidro de sangue seco também contêm um gel especial que se liquefaz quando é movido.

Entretanto, seja qual for o caso, o milagre do sangue liquefeito foi registrado desde o final do século XIV, quando o culto de San Gennaro começou a se propagar.

Para os fiéis, o milagre é um sinal de que São Gennaro ama a cidade e seu povo, e que os protegerá. É comum as mulheres passarem o dia e a noite antes do festival na igreja, orando ao santo e suplicando a ele (e a seu sangue) para que o milagre se realize no dia seguinte.

Tumba de San Gennaro nas catacumbas de Nápoles.

A Catedral de Nápoles

Oficialmente seu nome é a Catedral de Santa Maria Assunta, mas os napolitanos e o resto do mundo a chamam Catedral de San Gennaro, ou melhor “Duomo di San Gennaro”. É uma etapa imperdível em um passeio por Nápoles.

Localizada na Via Duomo, é lá que se encontram as relíquias e o maravilhoso tesouro do santo padroeiro de Nápoles. A catedral foi construída em 1294, mas sofreu uma série de reformas ao longo dos séculos, sobretudo depois de ter sido muito danificada durante os bombardeios da 2ª Guerra Mundial.

Foto de Pierre Andrews (Flickr)

 

Pia Batismal do Batistério de San Giovanni in Fonte. Ele está localizado à direita da abside da mais antiga catedral, a basílica de Santa Restituta, também hoje conectada como uma capela à atual catedral de Santa Maria Assunta. É uma pequena sala, acessível através de uma porta ao longo do corredor direito da basílica.

A Capela dos Tesouros de San Gennaro

Dentro da catedral há bem 18 capelas mas, sem dúvida, aquela que mais chama a nossa atenção é a Capela dos Tesouros de San Gennaro.

De fato, sua construção foi desejada pelos napolitanos como promessa ao Santo Padroeiro, para que as catástrofes que estavam destruindo a cidade cessassem, ou seja, guerra, peste e erupções vulcânicas. Na verdade, no início do século XVI, estes eram os três principais flagelos de Nápoles e só o milagre de San Gennaro poderia detê-los!

Na realidade, as questões relacionadas a esta capela são muito mais complexas, sobretudo aquelas relacionadas a seus magníficos afrescos. A capela não foi decorada por napolitanos, mas sim por artistas “forasteiros”, como Lanfranco e Domenichino.

No entanto, digamos que a população não recebeu muito bem essa notícia. Os pobres pintores que aceitaram as tarefas sofreram de tudo, desde ameças a ataques e até mesmo assassinato.

 

Domenichino, aquele que nos deixou o maior legado artístico na Capela dos Tesouros, pagou com a própria vida o fato de ter aceitado o trabalho. De fato, diz-se que ele morreu envenenado pelas mãos da Cabala de Nápoles.

Estes e outros acontecimentos fizeram com que as obras de construção e decoração da capela fossem muito mais longas do que o esperado. Apesar de tudo isso, a Capela dos Tesouros de San Gennaro representa um verdadeiro tesouro da cidade de Nápoles.

 

É na Capela dos Tesouros de San Gennaro que você poderá admirar o lindíssimo busto do santo. Ele tem 700 anos de idade!

Quer se trate das esculturas, do Busto de San Gennaro, ou os afrescos e altares, o fato é que você ficará encantado em admirar cada canto dela. É um triunfo da opulência.

 

A cripta de San Gennaro

Também na Catedral de Nápoles fica a cripta de San Gennaro. Ela está localizada logo abaixo do altar central da capela do mesmo nome, na abside, e foi encomendada pelo cardeal Oliviero Carafa, no ano em que os restos mortais do santo foram transferidos para a cidade.

 

Os ossos de San Gennaro foram transferidos para a cripta na metade do século XVI, depois de muito tempo escondidos no Santuário de Montevergine.

Urna com os ossos de San Gennaro.

Urna com os ossos de San Gennaro.

A cripta é muito mais discreta e íntima do que a Capela do Tesouro, mas também tem uma arquitetura lindíssima. Na verdade, a inteira Catedral de Nápoles é um espetáculo. Além disso, independentemente da religião, ela merece uma visita.

Crenças, superstições ou realidade? Cada pessoa tem livre arbítrio para escolher no que acreditar. E uma coisa é certa: mesmo para quem não acredita em santos ou milagres, é interessante ver a profunda devoção que move o povo napolitano.

Informações práticas:

Endereço: Via Duomo, 149, Napoli

Horário de abertura da Catedral de Nápoles: De Segunda a Sexta, das 8h30 às 13h30/ das 14h30 às 9h30; Sábado, Domingo e feriados, das 8 às 13h e das 16h30 às 19h30.

MUSEU SAN GENNARO: aberto de segunda a quarta, da 9 às 14h e de quinta a domingo, inclusive feriados, das 9 às 17h.

 

 

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1 comentário em “Nápoles e o milagre do sangue de San Gennaro”

  1. É um dos lugares mais lindos que conheci. Tive a benção de peregrinar à Napoli em 1994. Emoção, FÉ, bençãos. E ainda, lugares belíssimos na Costa Amalfitana..!!.. Deus abençoe a todos!!!

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