Atualizado em 18/12/2020
San Gennaro era um mártir cristão, decapitado por volta do ano 300, na ultima fase da perseguição de Diocleciano. É o padroeiro de Nápoles e está ligado a um acontecimento polêmico, de fé, mas também muito curioso: o milagre da liquefação do sangue.
Pois é, diz a lenda que, pouco tempo depois de sua morte, o sangue de San Gennaro teria sido coletado por uma mulher de nome Eusébia e colocado em ampolas encontradas próximo ao seu corpo.
Ao longo dos séculos, o sangue solidificou-se e tornou-se uma série de depósitos parecidos com pedras. No entanto, desde o século XIV, testemunhas oculares atestam o fato de que essas partículas sólidas transformam-se em sangue líquido em dias santos especiais. Seriam um sinal de bênção e proteção para os napolitanos.
Quem era Januário, ou melhor San Gennaro?
De acordo com vários estudos sobre a vida dos santos, Januário (Ianuarius, em latim) nasceu em Benevento e pertencia a uma rica família aristocrata. Com apenas 15 anos, ele se tornou padre de sua paróquia em Benevento, que na época era composta por uma população que professava principalmente o paganismo.
Quando Januário tinha 20 anos, tornou-se bispo de Nápoles e fez amizade com Juliana de Nicomédia e São Sossius, que ele conheceu durante seus estudos sacerdotais. Durante a perseguição dos cristãos pelo imperador Diocleciano, Januário escondeu seus irmãos e irmãs cristãos, impedindo-os de serem capturados.

Enquanto Januário estava visitando Sossius na prisão, os perseguidores o encontraram e o prenderam. Ele e seus fiéis foram condenados a serem lançados entre os ursos selvagens no Anfiteatro Flaviano de Pozzuoli (terrível!).
Mas acabaram por modificar a sentença por medo de desordem pública. Decidiram, portanto, decapitar San Gennaro na cratera do vulcão Solfatara. Outras lendas declaram que os animais selvagens se recusaram a comer o santo, enquanto em outras versões diz-se que ele foi jogado em uma fornalha, mas saiu ileso.
O ritual da liquefação do sangue
Na manhã de 19 de setembro (data de morte de San Gennaro), milhares de pessoas lotam a Catedral de Nápoles e a Piazza del Duomo, a praça em frente a ela, esperando ver o sangue do santo se liquefazer. É o ato que se conhece como o “milagre de San Gennaro”. Em uma cerimônia religiosa solene, o cardeal retira as taças com as ampolas sangue da capela e as leva em procissão, junto com o busto de San Gennaro.
A multidão assiste ansiosa para ver se o sangue milagrosamente se liquefaz, o que seria um sinal de que San Gennaro abençoou a cidade. Acredita-se que seja um mau presságio, se não acontecer. Se o sangue se liquefaz, os sinos da igreja tocam, e o cardeal leva o sangue liquefeito pela catedral até a praça para que todos possam vê-lo. De fato, na maior parte das vezes, o sangue se liquefaz.

Depois disso, ele devolve o relicário ao altar onde os frascos ficam em exibição por oito dias.
Ainda, em outras duas datas acontece o “milagre” da liquefação do sangue. Uma delas é o sábado que antecipa o primeiro domingo de Maio (data da primeira trasladação do corpo do santo). A outra é o dia 16 de Dezembro. Neste dia de 1631, San Gennaro teria salvo Nápoles de uma violenta erupção do Vesúvio.
Milagre ou uma brilhante invenção dos alquimistas?
Enquanto a Igreja Católica não toma uma posição oficial sobre a veracidade do milagre, os cientistas afirmam que os frascos de vidro de sangue seco também contêm um gel especial que se liquefaz quando é movido.
Entretanto, seja qual for o caso, o milagre do sangue liquefeito foi registrado desde o final do século XIV, quando o culto de San Gennaro começou a se propagar.
Para os fiéis, o milagre é um sinal de que São Gennaro ama a cidade e seu povo, e que os protegerá. É comum as mulheres passarem o dia e a noite antes do festival na igreja, orando ao santo e suplicando a ele (e a seu sangue) para que o milagre se realize no dia seguinte.

A Catedral de Nápoles
Oficialmente seu nome é a Catedral de Santa Maria Assunta, mas os napolitanos e o resto do mundo a chamam Catedral de San Gennaro, ou melhor “Duomo di San Gennaro”. É uma etapa imperdível em um passeio por Nápoles.
Localizada na Via Duomo, é lá que se encontram as relíquias e o maravilhoso tesouro do santo padroeiro de Nápoles. A catedral foi construída em 1294, mas sofreu uma série de reformas ao longo dos séculos, sobretudo depois de ter sido muito danificada durante os bombardeios da 2ª Guerra Mundial.


A Capela dos Tesouros de San Gennaro
Dentro da catedral há bem 18 capelas mas, sem dúvida, aquela que mais chama a nossa atenção é a Capela dos Tesouros de San Gennaro.
De fato, sua construção foi desejada pelos napolitanos como promessa ao Santo Padroeiro, para que as catástrofes que estavam destruindo a cidade cessassem, ou seja, guerra, peste e erupções vulcânicas. Na verdade, no início do século XVI, estes eram os três principais flagelos de Nápoles e só o milagre de San Gennaro poderia detê-los!
Na realidade, as questões relacionadas a esta capela são muito mais complexas, sobretudo aquelas relacionadas a seus magníficos afrescos. A capela não foi decorada por napolitanos, mas sim por artistas “forasteiros”, como Lanfranco e Domenichino.
No entanto, digamos que a população não recebeu muito bem essa notícia. Os pobres pintores que aceitaram as tarefas sofreram de tudo, desde ameças a ataques e até mesmo assassinato.
Domenichino, aquele que nos deixou o maior legado artístico na Capela dos Tesouros, pagou com a própria vida o fato de ter aceitado o trabalho. De fato, diz-se que ele morreu envenenado pelas mãos da Cabala de Nápoles.
Estes e outros acontecimentos fizeram com que as obras de construção e decoração da capela fossem muito mais longas do que o esperado. Apesar de tudo isso, a Capela dos Tesouros de San Gennaro representa um verdadeiro tesouro da cidade de Nápoles.
É na Capela dos Tesouros de San Gennaro que você poderá admirar o lindíssimo busto do santo. Ele tem 700 anos de idade!
Quer se trate das esculturas, do Busto de San Gennaro, ou os afrescos e altares, o fato é que você ficará encantado em admirar cada canto dela. É um triunfo da opulência.
A cripta de San Gennaro
Também na Catedral de Nápoles fica a cripta de San Gennaro. Ela está localizada logo abaixo do altar central da capela do mesmo nome, na abside, e foi encomendada pelo cardeal Oliviero Carafa, no ano em que os restos mortais do santo foram transferidos para a cidade.
Os ossos de San Gennaro foram transferidos para a cripta na metade do século XVI, depois de muito tempo escondidos no Santuário de Montevergine.

A cripta é muito mais discreta e íntima do que a Capela do Tesouro, mas também tem uma arquitetura lindíssima. Na verdade, a inteira Catedral de Nápoles é um espetáculo. Além disso, independentemente da religião, ela merece uma visita.
Crenças, superstições ou realidade? Cada pessoa tem livre arbítrio para escolher no que acreditar. E uma coisa é certa: mesmo para quem não acredita em santos ou milagres, é interessante ver a profunda devoção que move o povo napolitano.
Informações práticas:
Endereço: Via Duomo, 149, Napoli
Horário de abertura da Catedral de Nápoles: De Segunda a Sexta, das 8h30 às 13h30/ das 14h30 às 9h30; Sábado, Domingo e feriados, das 8 às 13h e das 16h30 às 19h30.
MUSEU SAN GENNARO: aberto de segunda a quarta, da 9 às 14h e de quinta a domingo, inclusive feriados, das 9 às 17h.
Planeje sua viagem
