Pular para o conteúdo

Descobrindo a Sicília

Home » CIDADES » Dicas do Oeste da Sicília » Tonnara de Favignana: um museu que conta a história da pesca do atum na ilha

Tonnara de Favignana: um museu que conta a história da pesca do atum na ilha


Certamente visitar um museu em Favignana é algo que nem sempre entra nos planos de quem visita aquela ilha. No entanto, há um lugar que vale a visita e que dá para encaixar perfeitamente entre um banho de mar e outro. É a chamada Tonnara de Favignana, ou seja, o lugar para onde se levava os atuns capturados através de armadilhas postas ao longo da costa.

Quando o barco que faz a travessia de Trapani para Favignana vai chegando ao porto, é impossível não notar umas construções que lembram armazéns, e das quais se sobressaem três chaminés. A “Tonnara” hoje em dia é um museu que chamara minha atenção depois que li várias opiniões positivas sobre o percurso de visita.

Atum em italiano de diz “tonno”. Daí o nome “Tonnara”.

Sendo assim, depois de desembarcar em Favignana, foi só o tempo de fazer o check in no hotel e seguir direto para o Ex-Stabilimento della Tonnara Florio, o museu que conta o ritual de captura do atum e as diversas fases de transformação deste produto.

Tonnara de Favignana

A pesca do atum em Favignana

Havia um tempo em que a pesca do atum era uma das atividades mais importantes na economia da Sicília. Ao longo do imenso litoral da ilha, havia dezenas de garagens onde ficavam os barcos e as redes especiais utilizadas na pesca do atum.

Durante o período de pesca, a qual era realizada com o método da matança por pescadores especializados, toda a comunidade das vilas de pescadores participava de algum modo. Quando os atuns chegavam, eram necessários muitos trabalhadores para limpá-los, cortá-los e prepará-los para a venda.

Sendo assim, Favignana era um dos lugares que mais se destacavam na pesca do atum. Lá se encontrava uma grande tonnara, que era uma das mais rentáveis da Sicília, tanto que no século XIX deu vida a uma verdadeira indústria do atum. De fato, o lugar se tornou o estabelecimento mais importante da área do Mediterrâneo.

O primeiro núcleo da tonnara foi construído pelos genovês Giulio Drago, mas a verdadeira revolução ocorreu em 1874, com a intervenção de Ignazio Florio, um brilhante empresário de Palermo. Primeiramente, Ignazio queria que se construísse um edifício funcional, otimizado para a transformação do atum. Dessa forma, contratou Giuseppe Damiani Almeyda, um importante arquiteto napolitano da época, que criou um estabelecimento com ambientes grandes e luminosos, um pátio com pórticos e muitas árvores para aliviar o calor, que é grande durante o verão.

LEIA TAMBÉM:  Os Leões da Sicília: A incrível história da família Florio

Museu em Favignana: a Tonnara Florio

O que era a “Mattanza”?

Quando se fala em como acontecia a captura do atum na Sicília, uma palavra sempre aparece: mattanza (literalmente, matança).

A mattanza representava muito mais que uma simples pescaria. Na verdade, acontecia segundo um ritual preciso, guiado pelo raís (palavra árabe que significa “chefe”), o qual conseguia prever com exatidão o momento da chegada dos cardumes, segundo seu conhecimento do mar, dos ventos e das correntes marinhas. O raís geralmente era um pescador experiente e tinha também a função de estabelecer o dia de início da pesca e onde posicionar as redes.

Além disso, a captura dos peixes acontecia seguindo um procedimento de origem medieval, simples mas muito cruel, e nascia a partir da observação dos hábitos dos atuns. Na primavera, estes peixes abandonam o frio do Oceano Atlântico para pôr seus ovos nas águas mornas do Mediterrâneo. Os cardumes ultrapassam o Estreito de Gibraltar, atravessam o litoral sul da Espanha, alcançando a Córsega, a Sardenha e a Sicília.

Os pescadores, chamados tonnaroti, oravam antes de partir e cantavam enquanto montavam as redes no caminho por onde passariam os atuns. Era um labirinto, com apenas uma entrada e uma saída.

Quando entravam, os peixes não podiam mais sair. Eles deviam seguir adiante, passando por cada rede, em um caminho que levava à chamada “sala da morte”, a última rede. Quando esta enchia de atuns, era fechada, erguida manualmente, e os peixes mortos por tiros de arpão.

Assim, as águas límpidas de Favignana se transformavam em um mar de sangue.

Hoje em dia restam somente os antigos barcos usados na captura dos atuns.

Felizmente, não realizam mais a “mattanza”, pois o número de atuns diminuiu drasticamente devido à pesca intensiva. Para se ter uma ideia, em 1845 capturaram 14020 atuns. Em 2007, último ano da mattanza, o número não chegou a 100.

Museu em Favignana: a visita a ex Tonnara Florio

Como escrevi acima, a última mattanza aconteceu em 2007 e aquela que era a atividade mais rentável de Favignana, se tornou história.

A grande tonnara do Mediterrâneo foi abandonada, transformando-se em um pedaço de arqueologia industrial na paisagem da ilha. Somente em 2010, depois de passar por 6 anos de restauração, que a Tonnara voltou a abrir suas portas, desta vez como um museu que conta a história da pesca e transformação do atum na ilha.

Este museu em Favignana é tão bem organizado, que todo mundo que passa por lá fica muito entusiasmado. Eu havia lido ótimas avaliações sobre a Tonnara, por isso minha curiosidade em conhecê-la era imensa. De fato, após visitar o museu, não fiquei desapontada.

LEIA TAMBÉM:  Como organizar uma viagem a Favignana

 

O percurso do museu

É possível visitar a tonnara por conta própria ou participar das visitas guiadas, as quais têm horários predeterminados. Na minha opinião, o único modo para conhecer bem o lugar é com um guia, por isso decidi esperar o horário da visita guiada.

A pessoa que nos guiou na visita era uma guia profissional nativa da ilha e apaixonada pela história da tonnara. Soube que há guias que são, inclusive, ex-trabalhadores da fábrica.

Museu em Favignana: Tonnara Florio

A guia, aquela de vermelho, explicando o funcionamento das redes.

Durante a visita, a guia foi contando a história e curiosidades da família Florio, explicando como ocorria a mattanza, como eram feitas as conservas do atum e como era a vida dos trabalhadores da tonnara.

museu em favignana

As antigas latas dispostas como acontecia realmente, prontas para receberem atum e óleo.

museu em favignana

No detalhe a lata do atum Florio, exportada para diversos países do mundo no início do século XX.

Nos explicaram que a tonnara era um sistema de pesca bastante sustentável, apesar de sangrento, porque capturava somente cerca de 10% dos cardumes de atuns e só os peixes realmente grandes. Os pequenos não eram capturados, como infelizmente acontece hoje em dia.

Museu em Favignana: Tonnara Florio

Este era o lugar onde se pendurava os atuns para que escorresse todo o sangue.

Do atum não se desperdiçava nada

ma vez capturados, se usava tudo dos atuns, não se desperdiçava nada: não é por acaso, de fato, que as receitas de atum são muito semelhantes àquelas cujo principal ingrediente é a carne vermelha.

Museu em Favignana: Tonnara Florio

Os imensos caldeirões de cobre onde se cozinhava os atuns.

Depois de limpos e cozidos, chegava a hora da parte principal, o enlatamento dos atuns. Esta tarefa era realizada pelas mulheres, as quais tinham uma maior habilidade com as mãos para posicionar corretamente os pedaços de peixe dentro das latas.
Uma curiosidade: Vocês se lembram daquelas latas de antigamente que vinham com uma chavinha? Parece que foi a Florio que inventou esse sistema de abertura!

Mais latas de atum

A Tonnara Florio teve uma importância fundamental para a economia da Sicília, sobretudo aquela de Favignana, chegando a empregar 800 pessoas, praticamente 1/5 da população da ilha. Sem dúvida o museu consegue contar essa história em modo divino e eu realmente recomendo a visita a este lugar. Vale muito a pena!

Museu em Favignana

A fábrica empregava muitíssimas mulheres. Imaginem que havia até uma creche lá dentro!

Quer receber no seu e-mail notícias, novidades e curiosidades sobre a Sicília e o restante da Itália? Então cadastre-se na nossa newsletter!
Não se preocupe, pois odiamos spam! Enviamos no máximo um e-mail por mês.

Informações úteis

  • Período de abertura: Nos meses de abril e maio, a Tonnara funciona das 10 às 14h. Em junho, das 10 às 17h. Em Julho, Agosto e Setembro, das 10 às 13h30 e das 17 às 23h (fecha no meio da tarde por causa do calor intenso).  No mês de outubro funciona das 10 às 17h. A Tonnara fecha para férias de inverno a partir de 06 de novembro até abril.
  • O bilhete de ingresso custa 6 euros e se você optar pela visita guiada, não há acréscimos. A entrada é gratuita para os menores de 18 anos.
  • Infelizmente as visitas guiadas são somente em italiano ou em inglês.
  • Mais informações sobre o museu em Favignana – Ex-Stabilimento Florio AQUI.

IMPORTANTE:

Para entrar nos museus e parques arqueológicos da Itália, é necessário apresentar o Green Pass, isto é o certificado de vacinação da COVID-19, um certificado de recuperação (menos de 6 meses) ou resultado de RT-PCR/antígeno negativo (máx. 48h). Os visitantes de países que não adotaram o Green Pass, podem entrar nos museus e locais de cultura mediante apresentação de certificação equivalente (ou seja, que apresente os mesmos dados do green pass) e que, no caso de vacinação, ateste o uso de uma das vacinas autorizadas na Itália (Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen), sempre acompanhado de documento de identidade. Estas medidas valem se aplicam a todas as pessoas com idade a partir de 12 anos.

 

Comente!

Novidades e informações

Cadastre-se na nossa newsletter mensal

E receba no seu e-mail notícias, novidades e curiosidades sobre a Sicília e o restante da Itália!