Você já ouviu falar nos dialetos da Itália? Que o italiano é a língua oficial da Itália isso todo mundo sabe, mas você sabia que ela não é a única língua falada no país? Na Itália também são faladas inúmeras línguas regionais!
Segundo o dicionário Aulete, dialeto é a “variante de uma língua restrita a uma comunidade inserida em uma comunidade maior de mesma língua”.
Quando a “Itália” como país unificado ainda não existia e o que havia era uma série de reinos e cidades-estado, cada lugar falava seu próprio dialeto, ou melhor, sua própria língua, cada uma com suas próprias características, de acordo com a posição geográfica, com os povos dominantes, etc.
Isso tudo durou até 1861, quando aconteceu a Unificação da Itália e, visto que um país unido precisava de uma língua nacional, decidiu-se tornar a língua falada em Florença, o idioma oficial.
Mas por que justamente o dialeto florentino? Os motivos foram vários, mas um dos principais era o fato de ser uma língua muito conhecida em toda a Itália, uma vez que era muito utilizada nas transações comerciais (Florença era uma das potências comerciais da época!).
Dialetos da Itália: afinal, quantos são?
É difícil dizer exatamente quantos dialetos existem na Itália. Isso acontece porque não só cada região, mas cada cidade, grande ou pequena que seja, tem dialetos diferentes. Eles podem variar até mesmo entre cidades distantes apenas 5km uma da outra.
De modo geral, até para facilitar as classificações, os dialetos foram agrupados segundo as regiões (em alguns casos, províncias). Assim, podemos dizer que na Calábria existe o dialeto calabrês, no Piemonte o piemontês, na Lombardia o lombardo, na Sicília o siciliano, em Nápoles o napolitano, em Bari o barese, e assim por diante.
No entanto, essa classificação acaba sendo muito imprecisa, porque as diferenças entre os dialetos locais é tamanha ao ponto de causar incompreensões até mesmo dentro da região. Por exemplo, na Sicília, há muita diferença entre o dialeto falado em Palermo e aquele falado em Catânia.
Para se ter uma ideia, vejam esse mapinha que ilustra os dialetos regionais. Observem que nas zonas de fronteira, há porções da Itália onde se fala outras línguas, como o esloveno e o alemão.
Segundo algumas estatísticas, os dialetos são falados por cerca de 60% dos italianos e desses, 5% falam somente dialeto (eu diria que são pessoas idosas e provavelmente sem instrução).
Enfim, apesar de boa parte dos italianos falarem em dialeto, isso acontece mais em âmbito familiar ou entre amigos. Quando estão no trabalho ou quando falam com pessoas desconhecidas ou em atmosfera formais, usa-se o italiano padrão.
Outra coisa que acontece frequentemente é ouvir uma mistura de italiano com dialeto. É muito comum (isso acontece demais aqui na Sicília) ouvir pessoas que, meio sem querer, usam palavras ou expressões dialetais em um discurso em italiano.
Características de alguns dialetos italianos
Milanês:
É classificado como dialeto setentrional gaulês e caracteriza-se por ter muitas palavras e a pronúncia parecida com o alemão e com o francês. Por exemplo, existem as vogais ö y ü, e as conjunções “eau” e “oeu” (como en “me batt el cör” (meu coração bate) ou “te gh’ee l’oeucc pusée grand del boeucc” – (você tem o olho maior que a barriga).
Vêneto:
Ao contrário das outras regiões do norte da Itália, o vêneto não é uma língua gálico-itálica, mas tem origens próprias. Uma particularidade do dialeto vêneto é a pronúncia do c com com de s, quando vem antes das vogais “e” e “i” (como no português!). Assim, a palavra cinque se pronuncia “sinque” (e não tíncue, como no italiano), “sento” ao invés de cento; “braso” ao invés de braccio.
Romano:
Chamado de “romanesco”, o dialeto romano é um dos que mais se ouve na tv e no cinema. É um dialeto muito próximo ao italiano, o que o torna de fácil compreensão. Uma das características do romanesco é a pronúncia de nn ao invés de nd (ao invés de “quando”, se pronucnia “quanno”, e “monno” ao invés de “mondo”), os verbos no infinitivo não terminam em “are” ou “ire” mas em “á” o “í” (mangiá, passeggiá, etc). Além disso, muitas vezes a letra “l” antes de uma consoante é substituída pela letra “r”, por exemplo: “ciò la màghina tarmente veloce ch’er navigatore me parla ar passato” (tenho um carro talmente veloz que o navegador fala comigo no passado).
Napolitano:
É um dos dialetos mais famosos da Itália, e ainda muito, muito falado mesmo. O dialeto napolitano se caracteriza por usar o fonema “chi” (que se pronuncia “Ki”) onde em italiano há o “Pi” (como em “Nun chiove chiú” – “Non piove piú”, não chove mais). Além disso, os artigos definidos perdem o “l” inicial do italiano (‘o sole (Il sole – o sol), ‘a casa (la casa), ‘e piatte (os pratos).
Siciliano:
O siciliano é um dialeto que sofreu influências de todos os povos que colonizaram a Sicília: gregos, bizantinos, árabes, espanhóis e até alemães. É possível notar uma grande influência latina, com as vogais finais pronunciadas em maneira bem clara e aberta. No siciliano, são várias as palavras que terminam com “u” ao invés de “o”, como “mortu” ao invés de morto, “focu” ao invés de fuoco, “iu” ao invés de io (eu, em italiano).
Bem, morando há anos na Sicília, já entendo bem o dialeto siciliano e até o falo. Já me peguei até usando palavras em siciliano ao invés do italiano!
Enfim, e você, já deu de cara com pessoas falando em algum dialeto e ficou sem entender nada? Se você entende bem o italiano, então não deixe de ver este vídeo do comediante italiano Enrico Brignano. Ele ilustra como ninguém a variedade dos dialetos italianos.
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A maioria dos “dialetos” citados , senão todos, na verdade são línguas neolatinas, já que elas não vieram do italiano, mas sim do latim.