Os cordeiros de marzipã são um símbolo da Páscoa na Sicília. Esses docinhos de amêndoas têm uma história bem antiga.
Durante a Páscoa, a Sicília passa por um fenômeno bem peculiar. Em cada cidade ou vilarejo, se celebra rituais e procissões muito simbólicas, onde os mistérios pagãos do renascimento se misturam com a liturgia religiosa.
E na culinária também se repetem receitas e tradições antigas, como os pães votivos decorados com ovos cozidos coloridos. Mas o verdadeiro símbolo da Páscoa na Sicília é, sem dúvida, o cordeiro de marzipã, emblema de sacrifício e ressurreição.
A lenda
Antes de mais nada, eu gostaria de contar para vocês esta história tão bonitinha, que li no livro “La Pecora di Pasqua“, da escritora siciliana Simonetta Agnello Hornby.
Gesuela era uma moça de 14 anos, órfã de mãe, que morreu no parto, e vivia em Favara, uma cidade perto de Agrigento. Seu pai, um rico médico de origem francesa, sentindo a morte próxima e querendo netos, exige que a filha lhe faça uma promessa: numa sociedade onde casamentos arranjados eram a regra, ela teria que escolher o próprio marido sozinha.
Obediente, Gesuela prometeu, porém tinha dúvidas. Como ela saberia quem era a pessoa certa? O pai lhe disse para não se preocupar, pois as coisas acontecem do jeito que têm que acontecer.
Um dia, explorando os campos nos arredores da vila, ela se deparou com algumas cabras com longos pelos brancos e chifres marrons, altos e retorcidos. Eram as cabras Girgentane, uma espécie local, mas sobre elas, segundo o que dizem as bordadeiras da vila, havia uma maldição: Qualquer pessoa que fosse proprietária de uma, condenaria seus filhos à esterilidade…
Gesuela não dá a mínima para esta maldição e logo conhece Tano, o rapaz que cuida do rebanho e filho do dono das cabras. Para a garota é amor à primeira vista, mas como ela contará ao pai que quer se casar com um cuidador de cabras?
Um dia Tano lhe dá uns cabritinhos modelados com argila. Era o período pascal, e assim Gesuela tem a ideia de propô-los às noviças do convento, para que possam realizar naquela forma (talvez sem os chifres retorcidos complicados) seus doces típicos de pasta de amêndoa. E esses doces parecem compensar parcialmente esse amor impossível. Mas não porque o pai dela se opôs, e sim porque Tano não está interessado na moça…
A história dos cordeiros de marzipã
Enfim, independente desta história curiosa contada no livro, a tradição de realizar cordeiros de marzipã é difundida em toda a Sicília e é bem antiga. Em geral, eles são representados sentados e têm um estandarte vermelho com a cruz. Mas também podemos encontrá-los na versão em pé ou com decorações mais elaboradas.
Conta-se que as freiras do Collegio di Maria, em Favara, criaram este doce, moldando o marzipã em uma forma de gesso. A aparência do doce foi escolhida por causa do significado do cordeiro na iconografia da Páscoa cristã, onde é justamente um símbolo sacrificial de redenção e ressurreição.
A tradição, portanto, se espalhou, tornando-se um dos ícones da gastronomia siciliana ligada à Páscoa. De fato, presentear alguém com um cordeiro de Páscoa feito de pasta de amêndoa é um gesto comum na Sicília, e o presente não se dirige apenas às crianças, mas também aos adultos.
Os cordeirinhos são feitos com um dos principais elementos da pastelaria siciliana, pasta de amêndoa ou marzipã. Com corante alimentar cria-se também os olhos, a boca, bem como seu manto (que por sua vez pode ser feito de pasta de amêndoa ou glacê real e guarnecido com cascas de laranja e limão cristalizadas). Além disso, a embalagem, muitas vezes reproduz um verdadeiro recinto feito de pequenas flores de chocolate e açúcar.
Receita dos cordeiros de marzipã
Quer tentar fazer os carneirinhos de marzipã? A receita de base é simples, porém requer um molde em forma de carneiro.
- 1 kg de farinha de amêndoa;
- 800 g de açúcar de confeiteiro;
- 1 colher de mel;
- 2/3 amêndoas amargas, conforme a tradição (ou 1 colher de chá de essência de amêndoa amarga);
- 130ml de água
- Formas em forma de carneiro
A massa deve ser trabalhada a frio, colocando a farinha e o açúcar de confeiteiro em uma tigela e adicionando lentamente as amêndoas amargas, picadas com uma faca (ou essência de amêndoa amarga) e mel. É preciso adicionar a água aos poucos, até obter uma pasta bastante dura, mas ainda moldável. A quantidade de água necessária varia sempre de acordo com o tipo farinha de amêndoa.
Depois de obter uma massa bastante dura, será necessário colocá-la na geladeira por pelo menos 30 minutos. Depois disso, será possível prosseguir na realização. Cubra as formas com película de cozinha e arrume a massa previamente moldada.
Em seguida, junte os dois moldes e pressione-os com força. Retire um dos dois moldes e comece a cortar o excesso de massa com a ponta de uma faca. Com cuidado, extraia os carneirinhos de marzipã e finalize as bordas com os dedos. Coloque a forma em uma bandeja e decore-o como desejar com corante alimentar.
Outro doce símbolo da Páscoa na Sicília, mas que hoje em dia se encontra o ano inteiro, é a Cassata. Conheça a história e a receita desse doce siciliano incrível.
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