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Catacumbas dos Capuchinhos de Palermo


Antes de mais nada, aconselho as pessoas que se impressionam facilmente ou extremamente sensíveis no que diz respeito ao assunto “morte” a não rolar a tela para baixo, pois este post contém imagens de corpos mumificados.

***

Demorei para escrever este texto, pois é um argumento não muito fácil de se tratar, mas depois de ler artigos em português que possuíam a mesma profundidade de um pires, cheguei à conclusão que era hora de falar das Catacumbas de Palermo.

Admito que sou uma pessoa muito pouco corajosa, tenho um medo ridículo da morte e repulsão a tudo ligado à ela: cemitérios, funerárias, enterros. Mas uma vez que me encontrava em Palermo com a única missão de conhecê-la melhor para poder dar dicas aos meus leitores, como poderia deixar de ir às Catacumbas dos Capuchinhos, uma das catacumbas mais famosas do mundo?

E foi assim que, com coragem e conhecimento prévio (algo fundamental, é preciso ter uma noção do que você está prestes a ver), corri para a bilheteria – fugindo da chuva e do grupo de turistas alemães que estavam chegando – e entrei com uma inexplicável serenidade no antigo cemitério subterrâneo do Convento dos Frades Capuchinhos de Palermo.

Entrada das Catacumbas de Palermo

A pequena entrada fica logo ao lado do convento. Essa foi a única foto que pude tirar, pois não é permitido fotografar o interior das catacumbas. Tá vendo as crianças na foto? Lá dentro tinha várias!

 

Catacumbas de Palermo: Desejo de vida eterna

A pergunta que nos fazemos é: Por quê? Por que desejar ser mumificado? É a velha história do homem que desafia o tempo, o medo de morrer e cair no esquecimento ou de perder para sempre um ente querido. Ser mumificado era uma tentativa de conservar o corpo, de poder ser visto e estar presente, mesmo após a morte.

De fato, os parentes dos defuntos visitavam as tumbas não só para levar flores, acender velas ou fazer orações, mas iam lá para contar as novidades e até mesmo pedir conselhos. Sabe-se que havia até quem fosse lá para comer junto com o defunto ou comemorar uma data especial.

Conheça a antiga – e praticamente extinta – tradição siciliana de fazer refeições no cemitério junto com os parentes mortos

 

Como tudo começou

Os Frades Capuchinhos chegaram a Palermo em 1534. Atrás do altar da Igreja de Santa Maria della Pace havia um cemitério subterrâneo com uma grande fossa comum onde eram depositados os corpos dos frades defuntos. Na verdade, os corpos eram enrolados em lençóis e jogados lá.

Depois de alguns anos, a fossa se tornou insuficiente para armazenar todos aqueles corpos e os frades decidiram construir um cemitério maior, escavando as catacumbas a partir de grutas já existentes no local. Ao transportar os corpos da antiga fossa para o novo cemitério, os frades se deram conta que alguns, apesar dos anos passados, tinham permanecido quase intactos, mumificados naturalmente.

O evento foi interpretado pelos religiosos como um milagre divino e decidiram não enterrar mais ninguém. Dali em diante, passaram a colocar os corpos em pé dentro de nichos, dando origem às catacumbas que conhecemos hoje.

As catacumbas na literatura
As catacumbas de Palermo são citadas no romance O Leopardo, um clássico da literatura italiana!

 

Quem eram aquelas pessoas nas catacumbas de Palermo?

Graças à “fama” dos corpos mumificados, o que era um cemitério exclusivo para os frades capuchinhos passou a ser de todos aqueles que pudessem pagar. Ser mumificado custava caro, cada tipo de pessoa tinha um preço (homens custavam mais do que as mulheres, por exemplo).

Além dos frades capuchinhos e personagens do alto escalão da Igreja, há médicos, advogados, artistas, coronéis, soldados, damas da sociedade, virgens e crianças, todos vestidos com as roupas tradicionais da época e que denotam claramente a riqueza de cada um.

Em suma, por quase 3 séculos, as famílias nobres de Palermo confiaram aos frades capuchinhos o corpo de seus mortos. Eram tantas pessoas que depois de um certo período já não havia mais nichos disponíveis, tanto que os frades começaram a colocar os corpos em qualquer lugar, no chão, pregados nas paredes, chegando a quase 8000 múmias. Hoje há 1252 múmias expostas, algumas em péssimo estado, outras incrivelmente conservadas, que até parecem observar nossos passos.

As múmias mais antigas das catacumbas são aquelas da ala dos frades.

As múmias mais antigas das catacumbas são aquelas dos frades. São as primeiras que vemos ao entrarmos nas catacumbas. Elas não assustam tanto, pois são praticamente esqueletos com roupas. Foto: Commons

As catacumbas são divididas por alas. Por exemplo, tem a dos frades capuchinhos, dos bispos, dos homens, das mulheres (as virgens são diferenciadas por uma coroa na cabeça), das crianças, das famílias (múmias parentes) e dos profissionais (advogados, médicos, soldados, etc.). No entanto, mais do que qualquer outra, para mim a ala mais difícil de ver foi aquela das crianças. Era uma época em que era comum morrer durante a infância, mas ver aqueles corpinhos bem penteados, com laços na cabeça, é de arrepiar.

Na ala das mulheres, uma distinta senhora em seu vestido de seda. Foto: Commons

Na ala das mulheres, uma distinta senhora em seu vestido de seda. Foto: Commons

Como acontecia o processo de mumificação

Havia uma sala especial, o chamado colatoio (em italiano, colare significa escorrer), onde os corpos eram colocados, esvaziados e preenchidos com palha, tecidos e essências vegetais para favorecer o processo de secagem dos líquidos. A porta era bem fechada, para evitar que o mau cheiro tomasse conta do inteiro bairro. A partir daí, mantida a adequada temperatura e a baixa umidade, acontecia o processo de mumificação natural e lentamente os corpos iam perdendo seus fluidos.

Depois de cerca 1 ano, os frades voltavam ao colatoio, levavam os defuntos para uma área ao ar livre, os limpavam com vinagre e os vestiam com os trajes fornecidos pelas famílias. Nos períodos de epidemia, se adicionava um banho de arsênio ou leite de cal, e o resultado era uma múmia ainda mais intacta.

Esta é uma das múmias mais terrificantes. Ele se chama Antonio Prestigiacomo e morreu em 1844. Dizem que ele era um grande "don juan", tanto que pediu que colocassem olhos de vidro em sua múmia, para que ele permanecesse com os olhos abertos e pudesse apreciar as mulheres por toda a eternidade.

Esta é uma das múmias mais terrificantes e bem conservadas. Ele se chama Antonio Prestigiacomo, morreu em 1844 e foi mumificado com a técnica do arsênio. Dizem que ele era um grande “mulherengo”, tanto que pediu que colocassem olhos de vidro em sua múmia, para que ele permanecesse com os olhos abertos e pudesse apreciar as mulheres por toda a eternidade.

Enfim, as catacumbas deixaram oficialmente de receber corpos em 1880, mas houve duas exceções no início do século XX. Uma foi a do vice-cônsul dos Estados Unidos que morreu em 1911 e a última, a mais famosa das catacumbas, a menina Rosalia.

Rosalia, a múmia mais bonita do mundo

A múmia que mais chama a atenção, e que já deu muito o que falar, é a de Rosalia Lombardo, uma menininha de 2 anos que morreu de pneumonia em 1920. Uma bonequinha loira, de longos cílios, que parece estar dormindo.

Rosalia pertencia a uma família muito rica e influente de Palermo. Ela foi embalsamada pelo Dr. Alfredo Salafia, o qual utilizou uma técnica secreta. Até hoje ninguém sabe com exata certeza como aconteceu o processo de mumificação de Rosalia. O que sabem é que deu certo, pois ela é considerada a “múmia mais bonita do mundo“.

Até algum tempo atrás, Rosalia repousava em uma capela junto com outras duas crianças, mas ela estava começando a se decompor. Uma equipe de especialistas recentemente a transferiu para uma urna de vidro e aço hermeticamente fechada, com temperatura e pressão controladas. Além disso, foi injetado nitrogênio para impedir a reprodução de microorganismos e fungos.

Múmia de Rosalia Lobardo

Nova urna de Rosalia. Foto: Commons

Ouvi opiniões bem divergentes sobre as Catacumbas dos Capuchinhos, desde quem pensa que é um lugar sagrado transformado em show dos horrores e máquina de fazer dinheiro, a quem se surpreendeu e saiu de lá satisfeito com a experiência vivida.

Na minha opinião, é um lugar para refletir e aprender. Mas se você tem a mente fechada e acha que o mundo tem que ser todo limpinho e cheiroso, nem perca seu tempo indo às catacumbas. Vi gente voltando do meio do caminho.

Por fim, como falei no início do post, temos que ter plena consciência de onde estamos indo. Sem dúvida, é um lugar para poucos.

LEIA TAMBÉM:  Siracusa: Conhecendo as Catacumbas de San Giovanni

 

Entrada, dias e horários de funcionamento das Catacumbas de Palermo

  • De segunda à  sábado, das 9 às 13h e das 15 às 17h.
  • Domingos e feriados, das 9 às 13h.
  • Valor da entrada: 3 euros

IMPORTANTE:

Para entrar nos museus e parques arqueológicos da Itália, é necessário apresentar o Green Pass, isto é, o certificado de vacinação da COVID-19. Os visitantes de países que não adotaram o Green Pass, podem entrar nos museus e locais de cultura mediante apresentação de certificação equivalente (ou seja, que apresente os mesmos dados do green pass) e que, no caso de vacinação, ateste o uso de uma das vacinas autorizadas na Itália (Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen), sempre acompanhado de documento de identidade. Estas medidas valem se aplicam a todas as pessoas com idade a partir de 12 anos.

Como chegar às catacumbas de Palermo

As catacumbas distam cerca de 15 minutos a pé da Piazza Indipendenza (Palácio dos Normandos), percorrendo a Via dei Cappuccini.

 

 

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16 comentários em “Catacumbas dos Capuchinhos de Palermo”

    1. Oi Vania, as atrações não fecham! Onde você viu isso?
      A funivia de Erice é um meio de transporte, e ela depende das condições climáticas. Em dias de muito vento ela não funciona, independente da época do ano.

      Um abraço,

      Patricia

    1. Com certeza, Fabio! Giarre fica perto de cidades lindas como Taormina e Catania, além de ter uma vista incrivel para o vulcão Etna!

      Um abraço,

      Patricia

  1. Olá, Patricia!

    Adorei seu blog, aliás suas dicas me fizeram planejar com mais entusiamo minha viagem a Sicília! Estou na porta das catacumbas e seu texto foi genial! Beijos e obrigada.

  2. Oi Patricia. Que bom que você nos respondeu. Vamos pegar suas sugestões e seguir à risca. Começaremos nossa aventura em Palermo e terminaremos também em Palermo. Gostaríamos de saber se seria melhor ficar em Messina ao invés de Taormina, em razão da grande procura por hotéis nesta cidade. Outra pergunta, já abusando de sua boa vontade: Quantos dias você nos sugere em cada cidade base? Quanto as ilhas, deixaremos para a próxima ida a Sicilia. Um abraço.
    Leila

    1. Oi Leila!
      Respondo sempre a todos os comentários :).

      Aqui pra nós (que ninguém de Messina me leia), não vale a pena ficar em Messina! Se você prefere ficar em outra cidade, eu sugiro que fique em Catania: lá tem muito mais coisas para ver e fazer. Você pode tentar também ver algo em Giardini Naxos, que fica a 10 minutos de Taormina.
      Você não falou quais cidades pretende visitar, então vou dizer a quantidade de dias referentes às cidades que citei anteriormente, ok?
      Palermo: mínimo 3 dias inteiros (só para a cidade em si)
      Trapani: 3 dias (1 para a cidade, 1 para visitar Erice, 1 para visitar Segesta ou Marsala)
      Agrigento: 1 dia e meio (1 para Vale dos Templos + centro histórico, 1/2 para Scala dei Turchi)
      Ragusa: 1 dia só para a cidade (adicionar outro se pretende visitar também Modica e Scicli)
      Siracusa: 2 dias para a cidade em si (+1 se pretende visitar Noto ou alguma praia)
      Taormina: 1 dia
      Catania: mínimo 3 dias (1 para visitar o Etna, 2 para a cidade em si)

      Espero ter ajudado e se tiver mais dúvidas, pode perguntar!

      Um abraço,

      Patricia

  3. Boa tarde Patricia. Seu blog é a salvação da pátria para aqueles que querem visitar a Sicília mas não sabem por onde começar. E este é o nosso caso. Somos três amigas e estaremos na Sicília por 22 dias em agosto. Alugaremos um carro e nossa intenção é dar a volta a ilha e conhecer o máximo possível mas com muita calma e aproveitando cada dia de nossa tão esperada viagem. Só marcamos hotel em Palermo onde ficaremos 3 dias. Depois disso só Deus sabe por onde passaremos. Gostaria, se possível, uma sugestão de roteiro. Quero ainda dizer que você trabalha muito bem com as palavras e isso nos faz visualizar os lugares, as cores e os cheiros. Incrível!!! Obrigada por essas maravilhosas descrições e dicas.

    1. Oi Leila

      Muito obrigada por todos os elogios! Meu objetivo com o blog era justamente ajudar as pessoas a conhecer melhor a Sicília. 🙂
      Então vocês iniciarão o tour siciliano por Palermo, certo? Podem pensar em dar a volta na ilha no sentido anti-horário, escolhendo como cidades-base aquelas mais importantes, como Trapani, Agrigento, Ragusa, Siracusa, Catania, Taormina e a partir de cada uma delas vão conhecendo os arredores. Vocês voltam também por Palermo? Pretendem incluir alguma ilha menor no roteiro?
      Leve em consideração que agosto é alta estação, então seria bom reservarem hotel também nas cidades mais turísticas, pelo menos 1 mês antes, e sobretudo em Taormina.

      Um abraço,

      Patricia

    1. Sério, Luiz? Rosalia é parente da sua esposa? Acho que se fosse minha parente, eu teria ainda mais curiosidade em ir lá!
      Um abraço,
      Patricia

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