Existem muitas catedrais majestosas na Itália e a catedral de Messina certamente não está no topo entre as mais bonitas. No entanto, há algo que a torna única: seu relógico astronômico mecânico.
Antes de mais nada, Messina é quase sempre uma cidade de passagem. A “Porta da Sicília” é o principal local de chegada para quem vem, por via terrestre, do resto da Itália e porto de atraque de muitos navios de cruzeiros. Além disso, é uma cidade que sofreu uma série de destruições ao longo da sua história e, por isso, acaba sendo mais moderna e menos atraente do que as restantes cidades sicilianas.
A história da Catedral de Messina
A Catedral de Messina, dedicada a Nossa Senhora da Assunção, está localizada no centro histórico da cidade. É, sem dúvida, seu principal ponto turístico. Suas origens remontam ao período normando, ou seja, ao século XII.
Contudo, a catedral tem uma história infeliz de destruição. De fato, ao longo dos séculos, suas estruturas originais sofreram frequentes transformações, às vezes com a adição de elementos arquitetônicos e decorativos segundo a moda da época. Isso quase sempre ocorreu devido aos danos causados por terremotos, e a consequente necessidade de reconstrução total ou parcial.
Incêndios e terremotos
Antes de mais nada, a primeira destruição ocorreu em 1254. Ela foi causada por um incêndio, durante o funeral de Corrado IV. Posteriormente, no século XIV, começou um período de enriquecimento lento, mas contínuo, que durou até o final do século XVI.
Neste período, importantes elementos decorativos foram introduzidos, como os mosaicos, a decoração do teto, os esplêndidos portais, o revestimento de mármore da fachada, o imponente complexo de Apostolado, cujo autor, Giovanni Angelo Montorsoli, era discípulo e colaborador de Michelangelo.
Depois veio o barroco, com a sobreposição de elementos que desfiguraram a nobreza e a simplicidade das linhas. Adicionaram estuques, querubins, festões, bem como uma infinidade de altares. Além disso, os arcos pontiagudos foram transformados em arcos românicos. Após o terremoto de 1783, a estrutura foi modificada para sobrepor uma cúpula de madeira no cruzamento da nave com o transepto. Dessa forma, a torre do sino foi demolida, bem como duas torres neogóticas que ladeavam os absides.
Enfim, com o terremoto de 1908, a Catedral de Messina desabou quase completamente. A reconstrução, realizada na década de 1920, trouxe o templo de volta às suas linhas originais. Graças às obras de restauração, foi possível recuperar quase todas as obras de arte.
Bombardeios na 2ª Guerra
Mas chegou a II Guerra Mundial e com ela mais destruição. Infelizmente, na noite de 13 de junho de 1943, duas peças incendiárias lançadas durante um ataque aéreo aliado transformaram a Catedral, inaugurada apenas 13 anos antes, em uma fogueira. Restaram apenas as estruturas do perímetro, enquanto o que havia sido recuperado após o terremoto foi quase inteiramente reduzido a cinzas. Cabia ao arcebispo, Monsenhor Angelo Paino, que já havia ressuscitado o templo dos escombros do terremoto, providenciar a nova reconstrução.

Por dentro
Em 13 de agosto de 1947, a Catedral foi reaberta para o culto e recebeu o título de Basílica do Papa Pio XII. As estátuas, os mármores e mosaicos são quase todas cópias valiosas dos originais perdidos.
O Relógio Astronômico da Catedral de Messina
Mas à parte a história sofrida da Catedral de Messina, o que chama a atenção mesmo e que leva, todos os dias, centenas de pessoas a visitá-la, é sua torre. Com uma altura de 90 metros e uma base de cerca 10, a torre do sino com seu relógio astronômico é uma maravilha. É o mais complexo relógio mecânico astronômico do mundo!
Feito pelos irmãos Ungerer de Estrasburgo e inaugurado em 1933, todos os dias da semana, ao meio-dia, inicia o movimento de várias peças de bronze que se movem ao som da Ave Maria de Schubert, por cerca de 12 minutos.
A história do Relógio Astronômico
No início do século XVI, Martino Montanini, um arquiteto italiano, planejou o que seria o mais alto campanário da Sicília, com seus 90 metros. Atingida por um raio em 1588, a torre foi reconstruída por volta de 1575. Mas ela também foi destruída outras inúmeras vezes, junto com a catedral. De fato, a torre atual, embora majestosa, é apenas uma imitação de sua antecessora.
O arcebispo Monsenhor Angelo Paino, em 1930, trabalhou na reconstrução da torre com base em um projeto do arquiteto Francesco Valenti. Ele tinha um plano elaborado para a construção de um relógio mecânico astronômico. Sendo assim, a tarefa foi entregue à empresa Ungerer, em Estrasburgo, que a construiu após três anos de trabalho.
Enfim, o relógio, projetado para representar a história civil e religiosa de Messina em sete cenas, foi inaugurado em 13 de agosto de 1933. O evento é lembrado por uma placa colocada no lado sul da torre do sino.
O movimento do relógio da Catedral Messina
O relógio astronômico é composto por dispositivos com engrenagens e alavancas, independentes em sua operação individual, correspondentes às várias cenas. Ele é acionado e obtém sua energia cinética a partir de um mecanismo de contrapeso do relógio, situado no andar central do edifício.
O ápice da torre é composto por uma cúspide quadrangular, cercada por outras quatro cúspides inferiores, que incluem os quatro quadrantes das horas, um de cada lado.
As sete cenas estão posicionadas abaixo dos mostradores do relógio. Primeiramente vem o Leão, depois o Galo com Dina e Clarenza. Em seguida se encontra a Madonna della Lettera (Nossa Senhora da Carta) com o anjo e quatro embaixadores messineses. Depois vem as cenas bíblicas (adoração dos pastores, adoração dos Reis Magos, ressurreição de Cristo, a descida do Espírito Santo), eentão a igreja de Montalto, o curso da vida humana. Por fim, há a cena que simboliza os dias da semana.
Cinco das sete cenas se movem todos os dias após o sino bater as 12 horas, enquanto as outras duas se movem ao longo do dia. No lado da torre que fica de frente para a fachada da catedral, há representações das fases da lua, do planetário e do calendário perpétuo.
O primeiro mecanismo do relógio astronômico de Messina: o Leão
Assim que soa o meio dia, inicia o movimento deste mecanismo incrível. E o primeiro deles é o leão. Quando chega o momento, a cauda se move, ele agita sua bandeira e ruge três vezes seguidas. O leão simboliza a força de Messina.

Torre do relógio astronômico da Catedral de Messina
O galo, Dina e Clarenza
Antes de tudo, o galo, logo abaixo do leão, representa o despertar. Assim, quando o leão termina de rugir, o galo começa a bater as asas, levantando a cabeça e canta por três vezes seguidas.
Além disso, há 2 estátuas de mulheres de ambos os lados do galo. Elas sinalizam as horas e os quarto de horas (cada 15min) batendo nos sinos. Em suma, trata-se de figuras históricas reais: Dina e Clarenza, duas mulheres que salvaram a cidade de um ataque surpresa durante o cerco à guerra das Vésperas Sicilianas, em 1282.
Os outros carrosséis
No centro da torre, abaixo do galo, há outra abertura com um quadro de figuras em movimento. São elas um anjo, São Paulo e três embaixadores de Messina. As figuras aparecem e desaparecem através de “portas” ao redor da imagem da Madonna della Lettera. Esta supostamente enviou uma carta à cidade, oferecendo proteção eterna. A carta teria sido trazida pelos embaixadores enviados por São Paulo a ela em Jerusalém. Essas figuras também se inclinam para a Virgem antes de continuar.
No outro lado da torre, o carrossel é composto por cenas bíblicas. Elas mudam de acordo com a época do ano, então você só verá uma quando estiver lá. Há 4 cenas: A adoração dos pastores, que é visível do Natal ao dia de reis; adoração dos Magos, visível do dia de reis à Páscoa; a ressurreição, da Páscoa a Pentecostes; enfim, a descida do Espírito Santo, visível de Pentecostes até o Natal.
Mas há um outro símbolo mecânico aparece na torre do sino. Trata-se da igreja de Montalto e uma pomba que voa ao seu redor. Esta cena descreve a história de Fra Nicola, sua visão e a construção da igreja de Monalto em 1294.
Além disso, há outros dois carrosséis de figuras de bronze. Primeiramente há um que representa as quatro fases do homem e o outro que representa os sete dias da semana. Este último muda diariamente.

Carrossel com as fases da vida humana, do nascimento, à juventude e morte. Esta é representada pelo esqueleto com a foice.
Uma dica:
Quando for a Messina, esteja na praça pouco antes do meio dia para conseguir uma boa posição para ver todos os movimentos.
Por fim, você também pode visitar a torre e ver as obras mecânicas por trás da tela. Os horários de funcionamento variam muito, portanto, verifique antes de ir. Os bilhetes custam 4 euros.
Mas de qualquer forma, mesmo sem visitar a torre por dentro, só o espetáculo do mecanismo em ação já vale a viagem!
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